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Entrevista | Afastado do debate, ex-senador Paulo Bauer não descarta retorno ao cenário político

Por: Marcos Schettini
26/06/2023 12:28
Roque de Sá/Agência Senado

“O futuro a Deus pertence... nunca se deve dizer a palavra nunca”, afirma o ex-senador Paulo Bauer (PSDB) em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini, ao ser indagado sobre prefeitos e empresários que são entusiastas do seu retorno ao cenário político e eleitoral de Santa Catarina.

Sendo taxativo ao dizer que os eleitores “precisavam tirar umas férias do Paulo Bauer”, o tucano hoje é presidente de uma das empresas do Grupo Ciser, em Joinville, graças a confiança e a amizade do seu amigo Carlos R. Schneider.

Por outro lado, Paulo Bauer faz algumas análises ao ser questionado sobre o governo Lula e a administração de Jorginho Mello. Quanto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entende que “é um homem que já não enxerga riscos eleitorais à sua frente” e diz que dará tudo certo para o Brasil se o “governo não atrapalhar”. Sobre o Governo do Estado, expõe que o governador montou uma ótima equipe, mas precisa “definir qual o modelo de governo que deseja oferecer aos catarinenses”.

Ainda, Bauer fala sobre sua passagem pelo Governo Bolsonaro, pincelando alguns dos pontos que ensejaram sua saída: “após o primeiro ano, o governo perdeu seu horizonte e se iniciou um período de busca por popularidade política”. Também, fala de democracia, Doria e Eduardo Leite e legado de ex-governadores de SC. Confira:


Marcos Schettini: Eleição de 2018 foi cruel com o debate político e ceifou lideranças. Quem entrou, buscou destruir a Democracia. Por quê?

Paulo Bauer: Eu não diria a palavra “buscou”. Prefiro usar a palavra “resultou”. Um resultado eleitoral “fácil” sempre pode produzir resultados perigosos. Ele pode produzir desnecessário desfile de “fumacentos” tanques militares, impróprios xingamentos e deboches endereçados a determinados grupos sociais, demonstrações permanentes de populismo, críticas a governantes de outros países e de estados, distanciamento do judiciário, falta de diálogo com opositores, desinteresse com pautas difíceis como a ambiental e a educacional e, principalmente, trabalho aquém das expectativas. Isso tudo gera crescimento zero em número de aliados e, principalmente, perda de credibilidade. Quem venceu fácil, quando detecta essa falta de crescimento e perda de credibilidade, acaba permitindo que ideias absurdas e antidemocráticas surjam e se propaguem. Felizmente as instituições estão sólidas, a opinião pública atenta e não há mais espaço no país para o autoritarismo. Graças a esses fatores a democracia resistiu e resistirá a qualquer tentativa de destruição.

Schettini: Na disputa de 2022, o eleitor foi ainda maior. A eleição do Lula é o retorno do debate político?

Paulo Bauer: Não creio que seja! Lula deixou de ser protagonista de debates políticos para se tornar apenas presidente da República. Aquele líder operário e comandante de partido político deu lugar a um homem que já não enxerga riscos eleitorais à sua frente, que não precisa mais contar sua história de origem pobre, que já deixou claro o suficiente sua prioridade pelos menos favorecidos e que governa para fazer o Estado ser ainda maior. O debate político caberia, neste momento, aos partidos, aos representantes políticos, especialmente aos parlamentares. Se for possível fazer o debate, avançamos democraticamente. Se não acontecer - o que considero ser muito provável, continuaremos vivendo essas disputas desgastantes do “nós contra eles” e vice-versa, independentemente de quem sejam os candidatos.

Schettini: O senhor trabalhou no Governo Bolsonaro por mais de um ano. Quais experiências tirou disso?

Paulo Bauer: 1 ano e 5 dias para ser exato. Trabalhar no Palácio do Planalto foi uma experiência nova e desafiadora. Não pedi para ter aquela função, mas entendi que não podia me furtar ao pedido de colaboração que recebi. Naquele período, muitas mudanças foram implementadas e muitos avanços foram produzidos. Trabalhei muito e aprendi muito. Lamentavelmente, depois daquele 1º ano, vimos muitas dificuldades se instalarem e muita coisa mudar, especialmente a partir do início da pandemia do coronavírus. A administração federal, com raras exceções, perdeu seu horizonte e se iniciou um período onde a política e a busca de popularidade tomaram totalmente o espaço do governo.


Schettini: O PSDB traiu a si mesmo nas prévias de 2022 e Eduardo Leite não aceitou a vitória de Doria na indicação para a disputa presidencial. Por quê?

Paulo Bauer: Os dois eram grandes nomes como lideranças partidárias, tinham excelente avaliação de seus governos e representavam uma nova proposta, um novo discurso na política nacional. Infelizmente, a polarização eleitoral quase dois anos antes da eleição, em torno de um presidente da República no exercício do cargo e um ex-presidente, produziu reflexos como a falta de empolgação dos filiados para a discussão sobre a melhor candidatura. O PSDB tem milhões de filiados no Brasil. As prévias, previstas no estatuto do partido, mobilizaram pouco mais de algumas dezenas de milhares. Independentemente do resultado das prévias, creio que os dois candidatos, mesmo que em momentos diferentes e por motivos diferentes, perceberam a falta de motivação no partido e concluíram não ser o momento de disputarem a Presidência.


Schettini: Os tucanos tem tido forte queda política com o PSDB perdendo completamente o protagonismo. Qual foi o erro?

Paulo Bauer: A política produz essa realidade. Tempos de glória são alternados por tempos de dificuldades. Isso já aconteceu com o MDB, com o Progressistas, com o PT e pode ser resultado de erros ou, em algum momento de demonstração da preferência do eleitor, algo que pareça novo ou diferente.


Schettini: As eleições municipais do ano que vem são o alicerce das estaduais de 2026. O que o Sr. Enxerga?

Paulo Bauer: Eleição municipal pouco tem a ver com ideologia, força partidária nacional ou estadual e com desempenho do governo federal ou estadual. Conta muito a credibilidade do candidato, suas propostas e liderança na comunidade. Evidentemente que o governador do Estado se envolve, manifesta apoio e até ajuda seus parceiros, entretanto isso não determina o resultado da eleição seguinte. Em Santa Catarina, se pode contar muitas histórias de governadores que apostaram alto em eleições municipais e não tiveram como resultado nenhum benefício na eleição estadual seguinte.



Paulo Bauer, então senador pelo PSDB de SC, conversa no Plenário do Senado com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), José Serra (PSDB-SP) e Eduardo Braga (PMDB-AM), durante sessão em setembro de 2017 (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

Schettini: A sua saída da vida pública, até pelas grandes contribuições que o Sr. ofereceu, não é resultado da antipolítica?

Paulo Bauer: Não! Costumo dizer que os eleitores precisavam “tirar férias” do Paulo Bauer. Meu distanciamento é resultado da super exposição, da exposição ininterrupta por 40 anos seguidos. Comecei em 1980 ocupando cargo no Governo de Jorge Bornhausen. Presidi empresa estatal no governo seguinte. Disputei e fui eleito deputado estadual em 1986. Exerci quatro mandatos de deputado federal. Fui duas vezes secretário de Estado da Educação. Em 1998, fui eleito vice-governador de Esperidião Amin e em 2010 fui eleito senador da República na chapa com meu saudoso amigo Luiz Henrique da Silveira. Disputei o Governo do Estado em 2014 e a reeleição ao Senado em 2018. Foram 9 eleições. Na 1ª obtive pouco mais de 19 mil votos e na de senador ultrapassei 1 milhão e meio. Fiz uma grande carreira política, ajudei a escrever a história de Santa Catarina e do Brasil. Penso que é hora de novos talentos e novos valores ocuparem o espaço que foi meu. Cumpri meu dever e o fiz com amor, com alegria, com dedicação e com honradez sempre em favor dos catarinenses.


Schettini: A vida privada não é uma ilusão para quem foi senador e vice-governador?

Paulo Bauer: Antes de ingressar na vida pública trabalhei na iniciativa privada. Aprendi muito com meu pai desde os 12 até os 18 anos, trabalhando na fábrica dele em Jaraguá do Sul. Depois, em Joinville, fiz de tudo. Vendi pneus, graxa e lona de caminhão, fui vendedor de títulos, contador, gerente de banco e de concessionária de veículos. Aprendi muito. Tudo isso enquanto fazia as Faculdades de Ciências Contábeis e Administração de Empresas. Hoje sou presidente de uma das empresas do Grupo Ciser, em Joinville, graças a confiança e a amizade de meu fraterno amigo, Carlos R. Schneider, proprietário e presidente do grupo. Considero meu trabalho uma oportunidade inédita. Não considero a atividade que desenvolvo uma ilusão; muito pelo contrário – está mais parecendo uma oportunidade para realizar mais uma obra em benefício de Santa Catarina.

Schettini: Muitos prefeitos e empresários falam de seu retorno ao cenário eleitoral. Onde o Sr. se observa?

Paulo Bauer: Certamente o fazem por gentileza e por excesso de bondade. Sou grato por isso. Ajudei muita gente, ajudei sempre, ajudei a todos, independentemente de partido. Fui e sou um democrata. Sempre digo que “o futuro a Deus pertence” e que “nunca se deve dizer a palavra nunca”. Por ora, estou distante dos assuntos partidários e afastado do debate político. O projeto de construção do 4º maior porto marítimo do Brasil, em São Francisco do Sul, que desenvolvemos na empresa, é muito grande e importante para a região Norte de Santa Catarina, para o Estado e para o Brasil. Pelo menos nos próximos três anos estarei envolvido e comprometido com sua viabilidade. Além disso, depois de muitos e muitos anos, finalmente tenho conseguido conviver um pouco mais com meus filhos e meus netos. Isso não tem preço! Mas, de qualquer forma, ainda tenho energia, continuo amando meu Estado e sua gente, considero a política uma atividade nobre e indispensável e, às vezes, a experiência pode ser mais importante que a voluntariedade ou o ímpeto da juventude. Então... melhor não pronunciar a palavra nunca.


Schettini: Depois de seis meses dos governos Lula e Jorginho Mello, qual a avaliação que o Sr. tem de cada um?

Paulo Bauer: Até agora o governo Lula/Alckmin não fez nenhum mal ao Brasil e aos brasileiros; pelo contrário. Confio na força do Brasil e de seu povo. Se o governo não atrapalhar, vai dar tudo certo e, se ajudar apenas um pouco, fica ainda melhor. Espero apenas que o presidente esqueça o governo que antecedeu o seu, pois desejo que faça este ser melhor que aquele. Estou certo de que não será difícil fazê-lo. Quanto ao Governo do Estado, é necessário reconhecer que o governador foi feliz na composição da equipe de secretários e dirigentes dos órgãos e empresas estaduais. Não faltam qualidades, experiência e aparente boa vontade aos nomeados. Contudo, ele e sua vice precisam definir qual o modelo de governo que desejam oferecer aos catarinenses. Até aqui parece estarem cumprindo as promessas de campanha, mas ainda restam três anos e meio pela frente.

Excluindo os últimos 10 ou 12 anos e recordando os governos dos 50 anos anteriores, é necessário lembrar do legado que deixaram. Celso Ramos desenhou um bem-sucedido programa de desenvolvimento econômico para o Estado. Konder Reis integrou SC com rodovias. Bornhausen valorizou os professores, construiu os maiores hospitais de SC e fez o estado ser o 1º lugar do mundo onde 100% das crianças foram vacinadas contra a poliomelite. Esperidião Amin, no primeiro mandato, asfaltou a Rio do Rastro e grande parte das BRs 282 e 280, além de ajudar como ninguém os agricultores e os pequenos empreendedores, enfrentando a maior enchente da história. No segundo, com minha participação como seu vice, recuperou as combalidas finanças e a credibilidade econômica do governo estadual além de garantir o abastecimento da água em Joinville e Criciúma e implantar o esgoto sanitário de Chapecó. Pedro Ivo e Casildo, assim como Colombo Salles, deixaram sua marca nas pontes que ligam a Capital ao Estado. Kleinübing reformou e modernizou a administração pública, em especial a Educação (com minha modesta ajuda como seu secretário). Luiz Henrique fez os Centreventos, ligou 100% dos municípios com asfalto, fez investimentos inéditos na educação catarinense (também com minha ajuda) e projetou SC no Brasil e no Exterior.

Espero que, no futuro, também tenhamos coisas boas a dizer do legado deixado pela atual administração.

Schettini: A Democracia foi atacada violentamente pelo extremismo bolsonarista. Regular a internet não é o melhor caminho para evitar fake news e elevar a verdade?

Paulo Bauer: “Se não vai por bem... Vai por mal”, dizia meu pai. Não podemos subordinar a sociedade, especialmente os menos esclarecidos, às mentiras, às fake news e às versões falsas. É necessário evitar a manipulação da população. Infelizmente, nossa condição educacional e cultural tem fragilidades. Se não fosse isso, não teríamos problemas. Há quem veja a regulação como algo negativo que impede a livre manifestação e a livre opinião. Não conhecem as leis existentes nos EUA e Alemanha, por exemplo. Nos EUA, até o presidente do país chega a ser impedido de usar redes sociais se postar inverdades ou notícias que afrontem a lei. Existem aqueles que acreditam que uma regulamentação pode fortalecer algum órgão de controle ou fiscalização e existem os que acreditam no “mal” necessário, como era o caso do meu pai e é o meu.


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